on quarta-feira, 22 de setembro de 2010
O vento soprava as folhas das árvores com uma voracidade apavorante. O céu encontrava-se nublado e acinzentado. As ondas do mar pareciam querer avisar à bela garota que ela corria perigo. De fato, ela corria perigo. Arnold apenas não queria pensar mais uma vez que o perigo era ele.
Observando os longos e sedosos cabelos loiros da jovem moça, ele pegou-se pensando e refletindo sobre as escolhas que havia tomado, e como ele tinha conseguido alcançar o fundo do poço. Todos apostavam que Arnold seria o melhor da famíla; que ele ultrapassaria as barreiras do impossível com uma facilidade inegável. Acreditavam que ele tinha nascido com o dom do sucesso.
Porém ninguém imaginara que o destino não havia planejado coisas boas para Arnold. O mundo conspirava contra toda e qualquer ação do pobre coitado. Até mesmo quando tentava fazer algo bom, Arnold fracassava.
Arnold fracassava sempre.
Quando se viu expulso de casa pelos próprios pais, abandonado por seus "amigos" e sozinho no mundo, a única solução que passava por sua cabeça era a morte. Seria um favor para o mundo se sua existência fosse inexistente. Quanto antes a carne de seu corpo putrefizesse mais felizes as pessoas poderiam ficar; mais tranquilas elas conseguiriam estar.
Arnold tentou por diversas vezes fazer com que alguém o matasse. Caminhou pelos bairros mais violentos, pelas rodovias mais perigosas. Viu coisas que o fizeram desejar ter os olhos brutalmente arrancados a vê-las. Mas a morte simplesmente não chegava. Era como se estivesse fadado a viver perambulando pelo mundo, vivo, impossibilitado de fechar os olhos para toda a crueldade existente.
O suicídio fora sua última opção. Tinha de ser algo rápido, prático e de preferência doloroso. Arnold estava prestes a atirar-se de um penhasco alto e lamacento, onde iria de encontro a rochas pontiagudas. Então, enquanto debruçava-se em suas próprias lágrimas, lastimando eternamente pela vida que não tivera, sentindo medo por não saber o que estava prestes a encontrar, ele viu uma imagem que seria gravada em sua memória por toda a sua existência. Arnold viu uma linda mulher, de pele pálida e olhar morto, com um enorme par de asas negras. De repente seus medos e conflitos internos desvaneceram-se, e um sorriso estampara-se em seu rosto, em meios a lágrimas densas e energicamente carregadas.
O anjo zarpara voo assim que Arnold tentara fazer contato. Entretanto aquilo foi o suficiente para que ele não se jogasse do penhasco. Esperança e alegria tomaram conta dele, porém apenas por alguns dias, até ele notar que as coisas não haviam mudado. Arnold era o mesmo fracassado de sempre. Sua vida seria a mesma inutilidade e nada faria a menor diferença na vida de ninguém.
Arnold tornara-se um assassino cruel e sanguinário. Todo e qualquer vestígio de felicidade, otimismo e esperança foram exterminados de sua alma. Ele pensara que deveria assumir o seu destino, e se ele tinha de ser uma pessoa perversa, o faria.
E então Arnold estava ali, naquela belíssima praia, em um fim de tarde nublado e assustador. Sua próxima vítima encontrava-se na beira da praia, sentada na areia. Pela primeira vez em muitos anos ele arrependera-se de todos os crimes que cometera. Talvez tivesse outra saída.
O tempo havia passado, era tarde demais para arrepender-se.
Logo que esse pensamento ecoou em sua cabeça, Arnold resolveu entrar em ação. Aproximou-se lentamente da jovem loira que assistia a dança das ondas. Porém ele não esperava que estava prestes a sentir algo totalmente novo em seu coração - e não esperava que tivesse sentimentos escondidos em seu coração.
Porque quando a jovem virou-se para ele, algo inusitado o fez ficar perplexo. Ele sabia que não conseguiria proseguir com mais um assassinato. Não suportaria cometer mais nenhum ato maldoso. Porque ali, naquele momento, com aquele olhar mágico e oceânico, Arnold estava totalmente enfeitiçado. E mesmo que ele nunca mais a visse, apenas aquela imagem seria o suficiente para que ele mudasse. Mas ele iria atrás, lutaria para tê-la de qualquer maneira.
E seu lado mais cruel entraria em confronto com seu lado mais novo, estranho e bizarro: o lado do coração.