on segunda-feira, 28 de junho de 2010
Fugir. Eu não pensava em outra coisa senão fugir e escapar de todo aquele sofrimento em minha vida. Como eu iria lidar com as pessoas que me faziam sofrer? De que maneira tudo conseguiria se estabelecer e alcançar a normalidade de sempre? Apesar das minhas pequenas esperanças de que tudo fosse ficar bem, eu realmente sabia que nada voltaria a ser como era antes. Porque, por mais que não quiséssemos mudar, havíamos passado por algo, e havíamos amadurecido.
Nós não éramos os mesmos de antes, então como as coisas poderiam voltar a ser normais? Não, elas não poderiam. E com certeza tudo era mais fácil antes, quando apenas sorríamos e éramos felizes. Agora o presente é feito de memórias boas do passado, e o futuro é um mistério indecifrável. Jamais repetiríamos os mesmos erros se soubéssemos o rumo que aquilo iria tomar.
Porém o que está feito, está feito. E agora cada qual permanece em seu espaço, refletindo sobre tudo. Refletindo sobre a vida, sobre o amor, sobre a felicidade. Enxugando as lágrimas, é verdade, porém criando uma armadura muito forte, porque a vida reserva muitas provas de fogo, e é preciso estar preparado. E após aquele intervalo na vida, o destino se encaminharia de guiar todos nós, de nos mostrar um leque de opções inacabáveis, e cabe a nós fazer a escolha certa, e seguir o caminho certo, sempre ouvindo o nosso coração.



on segunda-feira, 21 de junho de 2010
- Vou poder te amar para sempre? - foi o que ela me perguntou naquele instante, onde nossos corpos encontravam-se enlaçados e envolvidos por uma camada ténue e afável denominada amor; deitados em um belo jardim florido e com uma relva tão confortável e chamativa quanto uma cama bem acolchoada em uma tarde chuvosa.
Palavras faltaram em minha boca. Tudo o que consegui expressar foi um sorriso simples e sem vontade. Obviamente eu deveria não pensar muito e responder algo do tipo "É lógico, meu amor. Nosso amor durará para sempre." ou "Nosso destino está tão unido que nada poderá nos separar. Nossa sina é uma só: nos amar." Porém eu resolvi pensar um pouco mais, e consequentemente por minha cabeça em confusão.
Não restavam dúvidas de que eu amava aquela garota como nunca havia amado outra. Também era certo que ela me amava como nunca havia amado outro garoto em toda a sua vida. E aquela época seria inesquecível para nós, pois era um momento único que estávamos partilhando um com o outro. Beijos e juras de amor, e aos poucos cada um passava a ser o outro, cada vez mais tornando-se um só.
O que me preocupava era: até que ponto essa magia duraria? Até que ponto nós poderíamos separar o amor da paixão? Se é que uma coisa não estava tão interligada à outra a ponto de não poder ser dividida. Eu só tinha a certeza de que eu estava amando viver aquele momento com ela, e nada mais. O mundo, as pessoas, os problemas... nada era mais importante do que estar com ela. E se isso durasse para sempre seria perfeito. Mas será que duraria?
Muitos e muitos casos não deram certo, e o que parecia ser o maior amor do mundo nada mais era do que uma intensa paixão, que com o passar do tempo fora se apagando até não existir mais nada. Então o que eu estava fazendo ali? Iludindo aquela pobre garota? Me iludindo? E se nosso caso fosse uma exceção aos casos de fracasso? E se nós realmente fossemos ficar juntos para sempre e o nosso amor fosse crescer a cada dia, da mesma forma que prometíamos sempre um ao outro? Nesse caso eu não deveria fugir, eu deveria me entregar mais e mais ao amor que me envolvia a cada hora, a cada minuto da minha vida.
Meu coração estava confuso; minha mente estava confusa; eu estava confuso. E o que acontecia naquele momento era mágico, porque enquanto eu olhava nos olhos dela e só conseguia enxergar amor e mais amor, e só conseguia sentir meu coração palpitar mais rápido e minhas veias estremecerem ao sentir o toque suave e apaixonante da garota que eu amava, enquanto eu sentia o amor percorrendo cada fio de cabelo do meu corpo em forma de arrepio, então nada no mundo poderia mudar aquilo. Porque aquele momento simplesmente estaria marcado para sempre em nossos corações; aquele momento estaria marcado para sempre em nossas vidas, e mesmo que nossos destinos rumassem caminhos diferentes, nós sempre saberíamos que o que sentimos um pelo outro havia sido verdadeiro, e que tudo valeu a pena.
E com um beijo selando a trajetória dos pensamentos do meu coração, olhei nos olhos dela e tornei a dizer: "E mesmo que não queiramos, o que poderíamos fazer? Nós iremos nos amar para sempre, porque nossos corações irão se amar para sempre."


on domingo, 20 de junho de 2010
A vida é um jogo repleto de armadilhas e seduções. Nascemos predestinados a ser apenas mais um peão em meio à massa de pequenos pontos insignificantes e auto-confiantes demais, a ponto de relevar o nível de dificuldade que esse jogo apresenta. Porém a vida é mais que isso. É tudo o que temos e, ao mesmo tempo, o motivo para a nossa perdição.
Ao longo do jogo os peões vão avançando e seguindo suas histórias. Cada qual com suas dificuldades; cada qual com suas qualidades e com seus defeitos. Obstáculos são inevitáveis, porém a forma como cada pessoa lida com eles é a chave para vencê-los.
E sempre surgirão companheiros. É nessa hora que as coisas começam a mudar, no momento em que os peões passam a interagir com outros. Nem todos os companheiros virão com um propósito de ajudar. São esses as pessoas que entram em nossas vidas e deixam suas marcas para sempre. Na maioria das vezes essas pessoas acabam nos fazendo desviar de nossos objetos; acabam nos fazendo sentir coisas que não deveríamos sentir, porque nós simplesmente não deveríamos e isso já torna o fato um problema. Mas essas pessoas são de uma influência tão grande em nossas próximas jogadas que chegamos a pensar em mudar o nosso rumo.
Infelizmente acabamos cedendo à vontade e ao desejo de mudança, cegos de que nosso objetivo final fica cada vez mais distante. E o tabuleiro passa a ser um espaço pequeno para se jogar, onde a ambição tomou conta de cada casa.
No final, quem pode nos salvar? Apenas nós mesmos e mais ninguém. Porque dentro de cada peão existe um verdadeiro guerreiro, forte o bastante para derrotar qualquer monstro que esteja sondando sua consciência. Dentro de cada alma existe uma força muito mais poderosa do que qualquer um possa imaginar; uma força capaz de fazer mudanças - grandes mudanças. O caminho para encontrá-la está dentro de cada um, dentro de cada coração - que será, ao mesmo tempo, guia e chave para encontrar a força interior de cada peão. E no final cada peão receberá a sua recompensa, porque cada peão conseguirá encontrar a vida dentro de si.
on terça-feira, 8 de junho de 2010
Em todos os dias da minha existência aconteciam coisas interessantes, porque eu as fazia. Concordo que nem todas as pessoas achavam o meu trabalho uma coisa interessante, mas não cabia à mim se importar com os outros. E mesmo que coubesse, eu não me importaria. Eu não gostava nem um pouco das pessoas, elas viviam uma vida muito mal vivida, fazendo coisas indevidas e jogando a poeira para debaixo do tapete. Porém na hora de acertar as contas, todos passavam de inescrupulosos vermes à puros anjos propagadores da paz.
Não era do meu feitio perdoar os mortais. Eles realmente não mereciam ser perdoados; ou melhor, ninguém merecia e nem merece ser perdoado. Uma vez errando a punição deveria ser certa. Um mundo sem segundas chances seria um mundo ideal. Errar e ser punido; pessoas com medo de errar e cada vez mais alcançando a perfeição em tudo.
Infelizmente as coisas não funcionam assim na Terra e os humanos acabam perdoando atitudes imperdoáveis. Imundos, idiotas! Seres fracos e patéticos, esses são os humanos. Meu repúdio por eles é tanto que me sinto nauseado ao pensar naqueles seres inferiores.
Como eu sempre fazia, todos os dias de minha existência, acordava no maior quarto do meu palácio. Ouro, muito ouro, rodeava-me o tempo todo e por todos os cantos. Eu vivia uma vida luxuosa e não me sentia nem um pouco mal por isso, porque eu podia. Eu podia tudo.
E então as minhas lindas serviçais faziam absolutamente tudo para mim: me davam banho, preparavam um delicioso banquete, me satisfaziam com seu amor e carinho. Minha existência era perfeita, e eu também era fisicamente perfeito. Todas me desejavam e me queriam mais que todos.
Logo segui para o meu enorme escritório, também banhado à ouro. Empurrei as enormes portas da frente e sentei em minha confortável poltrona. Peguei o primeiro documento da pilha que encontrava-se em minha mesa. Não era fácil analisar todos aqueles nomes, todos aquele humanos desprezíveis, e escolher o primeiro do dia. Mas sempre era delicioso ir até eles e fazer o que eu fazia. Talvez por isso eu fosse o que eu fosse; talvez por gostar de fazer o que eu fazia eu tivesse sido nomeado como 'A Morte'.
on quarta-feira, 2 de junho de 2010
Parte final - Pangéia
Muitas coisas, muitas mesmo, ocorreram nos meses seguintes ao que havia acontecido comigo na noite do jantar da minha família. Minha vida mudara completamente, muito mais do que eu esperava. E também muitos acontecimentos estranhos desencadearam em minha vida, antes extremamente monótona.
Foi, sem dúvida, um choque muito grande ao descobrir que aquele pequeno grupo de jovens estranhos eram na verdade fantasmas. Ao meu ver pareciam ser tão normais. E ficaram bastante surpresos ao descobrir que eu era capaz de enxergá-los, já que nunca haviam conhecido alguém que fosse capaz de tamanha façanha. Foi naquele dia que eu resolvi abandonar tudo e todos que faziam parte da minha vida e rumar seja lá para onde os fantasmas estivessem indo. Entrei no carro com eles e me joguei nas mãos da sorte.
Porém a maior parte de mim havia feito isso pelo fato de Eva, a mulher fantasma que havia me enfeitiçado tanto a ponto de me fazer abandonar minha confortável casa e seguir, sem destino, com um grupo de fantasmas rebeldes. O que eu sentia por ela era inexplicável; sua importância para mim era indescritível. E faltava-me coragem para dizer tudo isso a ela. Talvez pelo fato do medo estar me tomando por completo, porque, apesar de tudo, eu estava entre fantasmas, pessoas que já haviam morrido.
Descobri que eram aqueles quatro fantasmas que estavam propagando o caos em meu bairro. Acompanhei aos poucos o que eles podiam fazer. Era incrível o poder de persuação de todos eles. Vi um por um usando suas habilidades. Lloyd era o mais experiente, pois era fantasma por mais tempo. Notei que ele não gostava muito de mim, provavelmente pelo simples fato de eu não ser um deles. Ele conseguia persuadir muitas pessoas a fazer algo, apenas com o poder de sua mente. Já Elvis e Catarina, os outros dois fantasmas do grupo, precisavam sussurrar ao ouvido do humano para que este pudesse obedecê-los. Porém Eva não fazia nada, porque ela simplesmente se recusava. Uma fantasma, porém ainda tão humana.
Passamos aquela noite em um bosque. O mundo com eles ficava tão mais fácil. Estranho, porém mais simples. Ficamos conversando, e resolvemos falar sobre a vida de cada um deles. A primeira a falar foi Catarina, que ficava mais bonita com o balançar dos seus longos cabelos loiros ao vento. Segundo ela, sua vida fora muito feliz. Era uma jovem que se preocupava bastante com sua saúde corporal. Porém um trágico acidente aéreo levara sua vida, e ela demorara dois meses para reencontrar a cidade em que morava, e deparou-se com seus entes queridos muito tristes com sua repentina partida. E o que mais a afetara fora que sua mãe ainda não havia encontrado um envelope que ela havia deixado em seu quarto, contendo uma boa quantia de dinheiro que a própria Catarina estava juntando para comprar uma novo carro para sua mãe. Triste e confusa, ela conheceu Lloyd, e passou a seguir andando pelo mundo com ele.
E todas as ideias vieram como um forte baque em minha mente. Havia então um motivo para Catarina estar, de certa forma, presa na Terra? Naquele mesmo instante expus minhas ideias, e fomos até a casa da mãe de Catarina, que ficava em um bairro vizinho. Com a ajuda dos fantasmas, pude entrar na casa sem ser notado, e logo entrei no antigo quarto de Catarina, juntamente com Catarina, que me disse onde estava o envelope. Novamente com a ajuda dos meus novos amigos, consegui fazer com que a mãe de Catarina encontrasse o envelope. Até que algo incrível aconteceu. Uma luz, muito ténue, apareceu em meio ao ar da sala. A mãe de Catarina estava emocionada e fora ao banheiro. Catarina também chorava, e aos poucos foi percebendo que aquela era a sua luz, e que era a hora dela deixar a Terra. E assim ela o fez.
Nos dias que se seguiram eu estava cada vez mais próximo da Eva, e Lloyd estava cada vez mais mal-humorado, como se ele não tivesse gostado da descoberta que eu havia feito. Não demorou muito para Elvis descobrir o motivo da sua permanência na Terra, e era o simples fator saudades, pois sua esposa ainda não havia superado a morte do marido. Ele então a fez uma visita e a confortou, e logo a sua luz apareceu.
Isso foi o cúmulo para Lloyd, que explodiu de raiva ao saber que o seu 'bando' estava diminuindo. Porém era compreensível. Aquela era a única família que ele havia tido em toda a sua vida, ou em toda a sua morte, e agora todos estavam partindo, o deixando sozinho. Eu e Eva tentamos o ajudar; tentamos mostrar que era preciso que ele achasse a luz dele, e que nós o ajudaríamos nisso. Infelizmente Lloyd não nos deu ouvidos, e queria ficar cada vez mais e mais na Terra, alegando que ali era seu lugar. E infelizmente Lloyd não achou a sua luz, mas sim a sua sombra; e seguiu para algum lugar menos calmo e feliz do que o lugar em que os que haviam achado a luz estariam.
E só restávamos nós, Hércules e Eva. Eu sentia que ela me desejava, me queria. E eu sabia que eu a amava, de uma forma que eu nunca havia amado antes. Por mais que o certo fosse encontrar a luz dela, eu não queria que isso acontecesse tão cedo.
E então resolvemos visitar a minha casa, que a tanto tempo eu não visitava. E ali as coisas se encaixaram; meu quebra-cabeça estava quase montado. Porque ninguém mais me reconhecia, ninguém mais me ouvia ou me sentia. Nem minha mãe, nem meus irmãos e nem os empregados. Eu era um invisível. E pela primeira vez eu consegui decifrar a minha mãe como eu nunca havia conseguido antes. O motivo dela estar triste era por minha causa, mas não por eu estar sumido por todo esse tempo, e sim por eu estar em coma profundo após ter sofrido um grave acidente de carro. Foi um completo choque para mim descobrir que eu estava quase morto, mas Eva estava ao meu lado e isso me acalmava.
Fomos então ao hospital em que eu estava internado. Não foi tão estranho quanto eu esperava ver o meu corpo completamente ferido e debilitado em uma cama de hospital. Naquele instante Eva apertou a minha mão. Agora eu poderia decidir entre voltar a ser o que eu era antes ou ser o que eu nunca havia sido: um fantasma. Que destino eu teria escolhendo morrer? Teria eu ao menos um destino digno?
Mas a escolha já estava feita, porque eu simplesmente não conseguiria voltar a ser o que eu era antes. Eu jamais seria o mesmo sem ela, eu jamais conseguiria viver sem Eva. Éramos um só, unidos por um laço tão forte e inexplicável que sempre me fazia querer estar perto dela. Eu a amava mais que tudo e a seguiria aonde quer que fosse. E logo a luz havia aparecido. De quem seria aquela luz? A minha ou a dela? Na realidade, não importava, pois nossas almas haviam se unido.
Éramos um só, como os continentes antes eram a pangéia.
E com um beijo amoroso e emocionado, seguimos juntos, de mãos dadas, para a luz que nos levaria para outro lugar. Seguimos juntos através da nossa luz.