Liberdade

on sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ele tinha uma vida perfeita. Recebera a melhor educação desde cedo, sempre tirando as melhoras notas e orgulhando seus familiares. Fizera um ótimo curso em seu período universitário e logo estava bem empregado. Sempre foi engajado em tudo o que fazia.
Aos 25 estava casado com 'o amor da sua vida', uma mulher linda e gananciosa - e isso é apenas um detalhe, afinal o dono da história é 'Ele'. Seguiu sendo promovido, mudando-se do apartamento de recém-casado para uma enorme casa com um enorme e bem-cuidado jardim. Uma casa perfeita para uma família grande e feliz.
Aos 30 - idade do sucesso -, não poderia estar mais feliz. Dois carros na garagem, dois filhos traquinando pela casa, uma esposa que o esperava chegar do trabalho e o recebia carinhosamente com um beijo.
Ele sempre seguira os padrões que a sociedade lhe impunha. Mas ele sabia que faltava algo. Sempre faltava algo. Nunca estava completo, porém ele não sabia o que faltava. Não conseguia definir uma palavra para aquilo, porque a sociedade o proibíra de pronunciar aquela palavra. Era um sentimento guardado à sete chaves e mergulhado em solidão dentro do seu peito.
Certo dia, ao sair do escritório, ele estava sozinho no elevador. Tudo seria normal como sempre fora. Progamado e automático. Ele seguiria para o estacionamento e entraria em seu complexo carro, enfrentaria um tedioso trânsito - e assistiria um dvd de MPB enquanto esperava os carros se movimentarem -, chegaria em casa e seria recebido pelos seus dois filhos com um forte abraço e algumas reclamações, depois seria beijado por sua mulher, que tiraria seu terno e carregaria sua pasta até o quarto, e conversaria com a mesma, geralmente sobre coisas supérfluas como 'O que será nosso jantar hoje?' ou 'Está gostando das aulas de ioga?' ou até mesmo 'Seu personal trainer veio aqui hoje ou você foi até a academia?'. Mal sabia ele que raramente sua esposa treinava com o seu personal trainer ou fazia aula de ioga, e que ela quase sempre saía com o 'personal trainer' para suprir suas necessidades que não estavam sendo totalmente preenchidas em seu 'casamento perfeito'.
Porém naquele dia não foi dessa maneira. A porta do elevador estava prestes a fechar, até que uma mão delicada e comprida parou a porta, que automaticamente abriu-se novamente. Ele viu uma mulher absolutamente deslumbrante - carregando uma caixa de papelão, e ainda assim deslumbrante -, tinha cabelos dourados, lisos e compridos, um sorriso cativante e olhos encantadores e doces. Ele ficou nervoso ao ajudá-la a carregar a caixa de papelão, mas a história seguiu mesmo com seu nervosismo descontrolado. O sentimento de simpatia que ele sentiu por ela foi recíproco, e em pouco tempo os dois estavam em um café, não muito distante do escritório. Ela estava trabalhando no mesmo prédio que ele, pois sua irmã possuía um escritório e estava precisando de uma assistente.
Logo ele descobriu que ela não estava tão a fim de trabalhar em um escritório. Logo ele descobriu que ela era um ser selvagem, que exalava adrenalina. Ele ficou fascinado por ela, pois ela era o oposto de qualquer pessoa que passara pela vida dele. Já passara das oito da noite, e começara a chover. Ela teria de pegar um táxi para ir para casa, e ele não estava nem um pouco a fim de ir para casa. Ela sabia que não era muito apropriado convidar um estranho para ir em sua casa logo na primeira vez que o conhece, mas o fez. Ele sabia que não era muito apropriado aceitar tal convite, pois sua esposa o estava esperando em casa, ansiosa para conversar mais uma vez com ele (e era assim que ele sempre pensara), mas aceitou a proposta. Seguiram então para a casa dela.
Ele, fascinado com o número de países que ela havia visitado, e o número de culturas que ela havia conhecido. Não demorou muito para os dois se beijarem, e se renderem à paixão que estavam sentindo um pelo outro. Ela, porém, não sabia da existência da esposa dele.
No outro dia, ao acordar na cama dela, ele simplesmente esqueceu de todos os seus problemas. Sim, porque ele simplesmente despertou para a vida. Não a vida real, claro, pois a vida real não passa de um muro acinzentado em que você não pode tirar o olhar do mesmo. Ele finalmente despertou para a vida de ilusões, sonhos e emoções. A vida intensa, a vida à flor da pele. Ele acordou e sorriu, acariciando o rosto dela. E finalmente se deu conta de que o sentimento que faltava em sua vida era o sentimento de liberdade.
Agora ele era um homem livre. Estava para sempre libertado da sua vida monótona e sem graça. Ela então lançou-lhe uma nova proposta, a de viajar pelo país à fora, sem compromisso. Ele só queria dar adeus à tudo e à todos que faziam parte da sua vida medíocre, e ali estava ele, no carro, com ela, em uma estradazinha simples, indo para lugar nenhum. Os dois estavam mais do que felizes.
Mas o que o destino reservava para ele e para ela?
Uma incerteza, pois ambos romperam os limites que a sociedade determinara. E talvez, um dia, ele teria de lidar com a vida que deixou para trás. E ela teria de lidar com a vida que nunca teve. E ele e ela não seriam mais eles.
Isso não importava no momento, porque eles estavam felizes. E enquanto fossem eles, o resto não passaria de detalhes.

1 comentários:

Unknown disse...

Jooope, amei essa *-*
beijos, Larissa

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