Um ser estranho

on terça-feira, 8 de junho de 2010
Em todos os dias da minha existência aconteciam coisas interessantes, porque eu as fazia. Concordo que nem todas as pessoas achavam o meu trabalho uma coisa interessante, mas não cabia à mim se importar com os outros. E mesmo que coubesse, eu não me importaria. Eu não gostava nem um pouco das pessoas, elas viviam uma vida muito mal vivida, fazendo coisas indevidas e jogando a poeira para debaixo do tapete. Porém na hora de acertar as contas, todos passavam de inescrupulosos vermes à puros anjos propagadores da paz.
Não era do meu feitio perdoar os mortais. Eles realmente não mereciam ser perdoados; ou melhor, ninguém merecia e nem merece ser perdoado. Uma vez errando a punição deveria ser certa. Um mundo sem segundas chances seria um mundo ideal. Errar e ser punido; pessoas com medo de errar e cada vez mais alcançando a perfeição em tudo.
Infelizmente as coisas não funcionam assim na Terra e os humanos acabam perdoando atitudes imperdoáveis. Imundos, idiotas! Seres fracos e patéticos, esses são os humanos. Meu repúdio por eles é tanto que me sinto nauseado ao pensar naqueles seres inferiores.
Como eu sempre fazia, todos os dias de minha existência, acordava no maior quarto do meu palácio. Ouro, muito ouro, rodeava-me o tempo todo e por todos os cantos. Eu vivia uma vida luxuosa e não me sentia nem um pouco mal por isso, porque eu podia. Eu podia tudo.
E então as minhas lindas serviçais faziam absolutamente tudo para mim: me davam banho, preparavam um delicioso banquete, me satisfaziam com seu amor e carinho. Minha existência era perfeita, e eu também era fisicamente perfeito. Todas me desejavam e me queriam mais que todos.
Logo segui para o meu enorme escritório, também banhado à ouro. Empurrei as enormes portas da frente e sentei em minha confortável poltrona. Peguei o primeiro documento da pilha que encontrava-se em minha mesa. Não era fácil analisar todos aqueles nomes, todos aquele humanos desprezíveis, e escolher o primeiro do dia. Mas sempre era delicioso ir até eles e fazer o que eu fazia. Talvez por isso eu fosse o que eu fosse; talvez por gostar de fazer o que eu fazia eu tivesse sido nomeado como 'A Morte'.

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